Cerrado: No coração do gigante


Photo in Natura/Daniel De GranvilleLagoa Serra Espírito Santo Foto: Photo in Natura/Daniel De Granville

Por quatro séculos nenhuma comunidade ou sociedade (indígena, de colonizadores ou bandeirantes) abalou a integridade desse complexo ecossistema. Nossa colonização focara basicamente a costa e o interior ficou em segundo plano. Na década de 1950, porém, Brasília foi instaurada no “coração do Brasil” e, a partir daí, a região centro-oeste se tornou a nova fronteira agrícola e o Cerrado, assim como outros grandes biomas em todo o mundo, entrou na luta pela sobrevivência frente ao “progresso”. E o progresso, em termos modernistas, que balizou também a arquitetura da capital, não deixou muito espaço para que o projeto da natureza continuasse a se desenvolver sem a interferência do homem. Brasília, aliás, foi seu algoz novamente quando, em 1988, os parlamentares responsáveis pelo capítulo do meio ambiente da Constituição Federal não incluíram o Cerrado nem a Caatinga como patrimônios nacionais. Desde então esse bioma resiste à degradação. (continua)

:: Enio Rodrigo B. Silva::

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"A imagem que se tem do Cerrado, no geral, é a de um local com uma vegetação não muito bonita e de um clima seco o ano todo, o que é completamente errado" Foto: Photo in Natura/Daniel De Granville

Megadiversidade corroída em ritmo acelerado

Trinta e quatro regiões no mundo inteiro são consideradas áreas prioritárias de conservação (hotspots), por abrigarem verdadeiros tesouros biológicos; duas dessas regiões estão no Brasil e uma delas é a do Cerrado (e a outra, por incrível que pareça, não é a Amazônia, mas a Mata Atlântica). O desmatamento no Cerrado anda a passos largos anualmente e as propriedades agrícolas podem, apoiadas pelo Código Florestal vigente, preservar apenas 20% da área nativa, bem diferente do que ocorre em florestas tropicais, como a Amazônia, nas quais esse percentual corresponde ao máximo que se permite desmatar. São 12.356 espécies da flora e mais de 2.546 animais catalogados, meros 10% do que existia originalmente nesse bioma. É também o berço de três das maiores bacias da América Latina (Amazônica, Paraná-Paraguai e São Francisco). Tantas riquezas ainda não foram suficientes para acender um alerta para garantir a sobrevivência, manutenção e conservação do Cerrado, segundo maior bioma nacional. Outra riqueza, essa produzida em seus mais de 70% de território degradado, tem sido a prioridade nacional: a agropecuária e o carvão vegetal. (continua)

:: Germana Barata ::

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A busca por números da devastação

Uma vereda de água gelada e cristalina, cercada de imponentes buritis. Um cheiro característico, que só quem já caminhou por um Cerrado fechado pode reconhecer. Um fruto avermelhado aberto de chichá, com suas sementes pretas perfeitamente alinhadas, como se fossem contas de um colar. Uma moita repleta de gabiroba, fruta amarelada, deliciosa. Esses são exemplos do que uma visita ao Cerrado pode propiciar, bioma com características marcantes e ainda pouco conhecidas de muitos brasileiros, embora seja um dos mais ricos em biodiversidade do mundo, patrimônio genético sem preço, região de nascentes das grandes bacias brasileiras e com inúmeras espécies nativas com potencial ornamental, interesse farmacêutico e frutas comestíveis. (continua)

:: Cristina Caldas ::

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Do ouro à soja: riquezas do Brasil Central

A região do Cerrado brasileiro, localizada na porção central do país, teve uma participação preponderante no desenvolvimento do agronegócio brasileiro nos últimos quarenta anos. Um dos carros-chefe desse grande impulso tem sido a soja, cujo maior produtor individual do mundo é o Grupo Maggi, da família do governador de Mato Grosso. Desde as primeiras descobertas de ouro no Brasil Central, no período colonial, a região nunca esteve tão próxima de um protagonismo mais vigoroso na economia do país. Mas os desafios para o futuro não são poucos: o capital agropecuário, por si só, ainda não foi suficiente para alavancar uma industrialização mais robusta e diversificada; as terras e riquezas nelas produzidas sempre foram muito concentradas; e o bioma do Cerrado tem sofrido uma retração cada vez mais preocupante. Quando já tiver passado o tormento da atual crise financeira mundial, no entanto, a região central do país tem a faca e o queijo nas mãos: infra-estrutura e demanda interna propícias para a industrialização, por um lado; e por outro, vê ganhar força o manejo de produtos como o pequi e a castanha-do-cerrado para geração de renda entre assentados rurais aliada à preservação do bioma. (continua)

:: Rodrigo Cunha ::

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Cultura, resistência, memória e identidade

“Enquanto a cultura do Norte, Nordeste e Sudeste foi bastante divulgada no país, a cultura do Cerrado ainda é pouco conhecida. As pessoas acham que no centro do Brasil só se produz música sertaneja”, avalia Veronica Aldè, musicista e pesquisadora do Instituto Trópico Subúmido (ITS) da Universidade Católica de Goiás (UCB). Além dela, trabalham no instituto mais quatro músicos pesquisadores que investigam as influências indígenas, européias e africanas na cultura do povo do Cerrado. Aldè, que desenvolve projetos com as comunidades indígenas, em especial os Krahô, explica que “cultura, território e conflitos estão relacionados e, ao trabalhar com esses povos, é inevitável pensar sobre o encontro de diferentes culturas e suas conseqüências”. (continua)
:: Susana Dias ::

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